domingo, 6 de outubro de 2013

Entrevista de Guarin para Revista Bocas: "Representar a Colômbia é tudo"

A carreira desportiva de Fredy Guarin não foi fácil.
Quem é na atualidade - para muitos entendedores - um dos mais talentosos e eficazes médios do futebol mundial, não é titular na sua seleção, apesar da equipa técnica, liderado por José Pékerman, continue considerando-o imprescindível.

Fredy Guarin começou com os Patriotas em Tunja, passando depois para o Tuluá, Cooperamos Tolima, Deportes Tolima, Atlético de Huila e Envigado ainda com menos de 18 anos.
Em 2005, aos 19 anos, já estava casado, tinha um filho e encontrava-se em Buenos Aires, a jogar com o Boca Juniors.

A sua carreira deu um salto significativo quando passou do Saint-Étienne para o FC Porto.
 O seu primeiro ano no Porto foi irregular e passou muito tempo no banco de suplentes, mas depois passou a ser um dos emblemas da equipa, marcando golos extraordinários como no jogo com o Marítimo, ao qual o jornal inglês 'The Guardian' o qualificou como o melhor golo daEuropa em 2011.

Em 2012, depois de um período com algumas lesões, Fredy Guarin foi cedido ao Inter de Milão.
O jornal desportivo 'La Gazzetta Dello Sport' descreveu-o como "um jogador especial que combina força física e inteligência táctica, que pode jogar em qualquer posição do meio-campo".


Como está o Inter em 2013/2014?
"Temos uma boa equipa, o que não podemos negar é que as outras equipas como a Juventus e o Nápoles reforçaram-se muito, também a Fiorentina e até mesmo o Milan".

Fala-se muito de Thohir...
"Como jogador devo dar o máximo para a minha equipa. Dos outros assuntos falam o treinador e a direção".

Acha que precisam de reforços?
"Se chegarem jogadores fortes e que podem ajudar-nos serão bem vindos".

Qual é a sua relação com o golo?
"Todo o futebolista sonha em fazer golos. Não importa qual é a tua função em campo, o golo é a essência deste desporto. Eu não marco muitos, mas quando nasceu a minha filha Danna queria dedicar-lhe um e aí chegaram mais. E sobretudo foram golos importantes e no final o Porto saiu campeão e foi um ano inesquecível. Agora espero conseguir o mesmo com o Inter e com a Seleção".

Que importância dá ao estudo agora que é pai?
"Na Colômbia diz-se "filho és e pai serás" e está muito certo. O meu filho mais velho, Daniel, tem oito anos e está no terceiro ano da primária. Quando chegamos a Milão deveríamos matriculá-lo no segundo e depois do exame que lhe fizeram passaram-o para o terceiro e senti-me muito feliz. E para além disso, já fala muitos idiomas porque os meus compromissos como futebolista nos têm levado a viver em muitos países.
O Daniel é muito apaixonado pelo futebol e está sempre atento aos meus jogos. Em Itália todos respiram futebol e se ele um dia decidir ser futebolista vou a respeitá-lo. Agora, o importante é que desfrute da infância".

Onde conheceu a sua esposa?
"Em Medellín, quando jogava no Envigado. Pouco tempo depois de estarmos juntos, eu fui para o Boca Juniors, não para a primeira equipa, mas estava igualmente emocionado pelo que o Boca representa. Depois ela e o Daniel chegaram".

Como foi passar do futebol colombiano para o argentino?
"Não foi fácil. Eu vinha do Envigado e cheguei ao Boca Juniors com a condição de empréstimo com opção de compra e sabia que devia demonstrar o que eu era. Na primeira temporada joguei na terceira divisão e logo que começou o torneio de Verão, o treinador Alfio Basile levou-me para a equipa profissional e joguei vários jogos às suas ordens".

E o salto para a Europa?
"Foi complicado chegar à França, mas como sempre, o apoio da minha esposa e a presença do meu filho foram o mais importante para poder-me adaptar".

Como reage a sua família a essas contínuas mudanças de vida e cultura?
"Às vezes tive problemas, não é fácil para uma mulher e mais dois filhos aceitar este tipo de vida. As pessoas não imaginam como é difícil adaptar a outro lugar e deixar um lugar onde já se tinha estabilidade. No final, podemos entendermo-nos e saber que o mais importante é estarmos unidos". 

Qual foi o seu pior momento no futebol?
"Quando cheguei ao Saint-Étienne, em França passei muito mal por causa do idioma, o frio e o modo de ser das pessoas. Outro mau momento são as lesões. Há quem pense que no futebol é só alegria, e não sabem que ser alguém neste desporto custa muito. Para mim a companhia da minha esposa e os meus dois filhos é fundamental, e estando num país longe valorizamos mais a família porque no bem ou no mal eles estarão sempre connosco. A minha esposa e os meus filhos são uma motivação e uma inspiração a cada instante da minha vida profissional. Tê-los comigo é algo que não tem preço. É algo tão profundo que não consigo exprimi-lo em palavras".

E o seu melhor momento?
"Como profissional a experiência no Porto será inesquecível. Portugal é um país que sente muito o futebol e felizmente conseguimos dar muitas alegrias aos adeptos".

E marcou contra o Marítimo, que muitos é o seu melhor golo:
"Sim, foi uma grande alegria e um passo para a frente na minha carreira".

O que sentiu nesse momento?
"Nem eu acreditava, foi um momento emocionante. Desde que chutei e vi a trajetória da bola, foi um curva impressionante. É raro ver esse tipo de golos. Já fiz outros golos muito bons, mas a imagem desse golo deu a volta ao mundo e foi uma felicidade para mim e mais ainda ver que esse golo dava alegria a quem ama o futebol. Recordo os sorrisos dos meu companheiros quando vieram celebrar o golo comigo. É o tipo de golo que abre muitas portas".

A do Inter?
"Chegaram muitas propostas, entre elas uma da Juventus, mas decidi vir para o Inter". 

Desde há muitos anos, Itália tem protagonizado vários episódios de racismo nos estádios. Como você vive com essa parte do 'calcio'?
"É muito complicado aceitar os insultos, somos Homens e temos o nosso carácter. A mim não me afecta muito, tento ultrapassa-los porque sei que veem de pessoas estúpidas. Lutei para ter o que tenho e não estou disposto a baixar a cabeça. Mas em campo represento o Inter e tenho que comportar-me como um jogador do Inter".

Nunca sentis-te vontade de deixar o campo?
"A mim nunca me insultaram directamente até agora, mas já vi companheiros a sofrer por isso. É muito triste. Essas pessoas que insultam, não pensam que esses futebolistas têm filhos e família que também ficam afetados com isso. E o mais absurdo é que quem insulta pela cor da pele também têm negros nas suas equipas.
Porquê que insultam aos negros se não podem viver sem nós? Trazemos espetáculo ao futebol Europeu. O melhor é mostrar indiferença para esses ignorantes.
Nunca vou deixar o campo porque antes de mais nada sou profissional, mas entenderei qualquer reação que tenha um companheiro ou colega e lhe darei o meu apoio".

O que passa pela mente de um futebolista quando não é titular?
"No meu caso, já foi uma decepção, mas nunca duvidei das minhas condições e sempre contei com a motivação da minha família e também a força do meu passado e a minha infância cheia de sonhos. Saber que o meu filho vai ficar feliz se marcar um golo, motiva-me a lutar por isso. O meu segredo é ter uma atitude positiva e não esquecer os maus momentos, por muito que as coisas estejam bem. Temos que saber onde estivemos para saber onde estamos".

Que diferença há entre jogar na sua equipa e a Seleção Nacional?
"Dou sempre o máximo, sei que é o meu rendimento na minha equipa que me leva à seleção. Mas o sentimento de jogar na Seleção é outro, é uma alegria total porque encontras-te numa família e é o teu país, as tuas pessoas. As emoções são muito grandes e agora que estamos a um ponto de ir ao Mundial não poderia defini-lo. Representar a Colômbia é tudo".

Pelas suas palavras, imagino que tem muitas saudades.
"É claro que tenho. Tenho saudades das pessoas, do modo como as suas pessoas se encontram e fazem uma festa por nada. Tenho saudades da minha família, os meus avós e amigos de infância".

Depois de Colômbia, qual é o país que mais gosta?
"Os Estados Unidos, fui lá várias vezes nas férias com a minha família. Gosto muito da forma como eles vivem".

Tem amigos na Europa?
"Quando estava no Porto, tinha o Falcao e o James, éramos muito amigos fora do campo. Em Itália, felizmente jogam vários companheiros da Seleção".

Quais são os seus próximos objectivos?
"Ajudar o Inter a fazer uma grande temporada e lutar pelo 'scudetto'. E com a Seleção ir ao Mundial e jogar o melhor possível".

E quando acabar a sua carreira?
"Ir viver com a minha família para um bom lugar e desfrutar deles, da vida familiar, que é o que mais gosto".

Na Colômbia?
"Gostaria de viver algum tempo nos Estados Unidos da América, mais concretamente na Florida, que é um lugar que eu gosto. A vida lá é muito alegre e tranquila".



Traduzido por: Fredy Guarin Fãs

1 comentário:

  1. Genial, es una de las mejores entrevistas que he leído, Sencillez ante todo

    ResponderEliminar